Demanda por eficiência energética tende a ser positiva para algumas companhias, como é o caso da Weg

Alertas sobre a possibilidade de a Europa entrar em recessão entre o final deste ano e o início de 2023 estão sendo ligados diariamente por centros de estudos, agências de risco e casas de análises de investimento em todo o mundo. A retração pode gerar efeitos danosos à economia global, que ainda sofre os efeitos da pandemia de Covid-19. Muitas empresas brasileiras, por exemplo, estão expostas direta ou indiretamente à crise europeia.

A crise no fornecimento de energia no continente – que deve ficar ainda mais crítica com a aproximação do inverno Hemisfério Norte – mantém os preços no alto, pressiona índices de inflação e exige que os Bancos Centrais subam as taxas de juros, com o natural efeito de desacelerar a atividade.

Enquanto isso, governos se veem obrigados a gastar mais com subsídios às contas de luz, ao mesmo tempo em que põem em ação planos para reduzir o consumo.

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No início do mês, analistas do Goldman Sachs calcularam que as contas de energia na Europa podem atingir no ano que vem o pico de 2 trilhões de euros (US$ 2 trilhões) em todo o continente.

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Isso após um aumento de aproximadamente dez vezes nos preços da eletricidade no ano passado, o que piorou sensivelmente a situação econômica para empresas e famílias que ainda se recuperavam da pandemia.

A última estimativa divulgada pelo Eurostat, o escritório de estatística da União Europeia, apontou que a inflação de agosto atingiu uma taxa anualizada de 9,1%, sendo que apenas os preços de energia subiram 38,3%.

Juro alto, atividade fraca

Esse quadro levou à decisão do Banco Central Europeu (BCE) de acelerar a alta de juros, para 75 pontos base, no início do mês. E novas alta dessa magnitude já estão no radar.

Mas essa política contracionista deve cobrar seu preço, alertou em relatório o BlackRock Investment Institute, braço de análises da gestora. Para os analistas do fundo, o BCE não está reconhecendo que pode “esmagar ainda mais a atividade tentando combater a inflação alta”.

O BlackRock estima contração de -0,9% na economia europeia no ano que vem como o cenário mais provável. Em julho, o FMI estimou que no pior cenário – de interrupção de fornecimento de gás pela Rússia, a queda do PIB poderia chegar a 3%.

No dia 14 de setembro, a agência de classificação de risco Fitch fez uma onda de revisões para baixo da economia global. Para a Zona do Euro, o cálculo é de uma queda de 0,1% no próximo ano, 2,2 pontos porcentuais abaixo do previsto anteriormente.

Crise energética

Segundo estudo do Bruegel, “think tank” com sede em Bruxelas, o sistema energético da Europa enfrenta um estresse físico e institucional sem precedentes. Na base dessa crise está um desequilíbrio global pós-Covid-19.

Embora a demanda tenha se recuperado rapidamente com a reabertura das economias, a oferta não acompanhou esse processo. Para piorar, o desafio de redução do uso de combustíveis fósseis (de acordo com as metas climáticas) não foi acompanhado por uma redução proporcional da demanda por essas fontes.

Em meio a essas indefinições, a Rússia passou a manipular politicamente os mercados europeus de gás natural desde o verão de 2021, explorando seu significativo poder de mercado. Ou seja, antes mesmo de invadir a Ucrânia e de retaliar as ameaças sanções do Ocidente com cortes no fornecimento de gás.

Antes da guerra a produção russa fornecia cerca de 40% do gás utilizado pela União Europeia.

A Gazprom, controlada pelo Kremlin, suspendeu este mês indefinidamente os embarques para a Europa através do gasoduto Nord Stream, citando dificuldades técnicas, sem muita convicção

Finalmente, eventos como a fraca produção nuclear francesa por conta de manutenções e a seca em curso – que reduziu a geração de energia hidrelétrica – agravaram ainda mais a situação do continente.

O arsenal de respostas dos governos europeus é muitas vezes individual e desordenado. Passa por planos de limitação de consumo residencial e empresarial, estipulação de tetos de preços para gás, subsídios a contas de luz e taxação extra de lucros do setor.

Risco empresarial

Além dos graves problemas sociais que a falta de gás pode trazer à população europeia durante o inverno, há muita preocupação com a atividade industrial. Especialmente na Alemanha, Itália, Europa Central e Oriental.

A Economist Intelligence Unit (EIU) lembra que o setor industrial responde por quase 30% do PIB da Alemanha, e a dependência do gás russo é alta, de 35% (antes da guerra era de 55%).

A divisão de pesquisa da The Economist espera que os principais danos à economia venham das indústrias de uso intensivo de energia, como química, siderurgia, vidro e fertilizantes, que serão as primeiras a enfrentar o racionamento de gás.

No entanto, os preços mais altos e a confiança em colapso já estão afetando outros setores, como máquinas e fabricação de automóveis, com efeitos colaterais sendo sentidos na Itália, Áustria e Europa Central.

Leandro Pellandini, da equipe de equity strategy da Julius Baer, mantém uma visão neutra sobre as ações de empresas europeias, uma vez que considera os impacto de médio prazo dos preços da energia nos lucros muito variado de acordo com o setor.

Ele seria positivo para serviços públicos e petróleo e gás e negativo para produtos químicos e viagens e lazer, por exemplo. E isso ainda dependerá de intervenções de governos.

Empresas brasileiras

Mas o que isso pode representar para empresas brasileiras que mantém negócios com a Europa? Quais empresas estão mais expostas e quais os riscos e oportunidades?

Um estudo feito neste mês pela estrategista de ações do Santander, Aline de Souza Cardoso, traçou um panorama da situação.

As companhias nacionais estão alocadas em três categorias. Numa cesta à parte, estão empresas controladas por grupos europeus  – Telefônica Brasil (VIVT3), TIM Brasil (TIMS3), Ambev  (ABEV3), Engie Brasil (EGIE3), Energias do Brasil (ENBR3), Neoenergia (NEOE3), Assaí (ASAI3) e Carrefour Brasil (CRFB3).

Nesses casos, o impacto de uma recessão nos países-sedes será pequeno em termos de receita, mesmo que aconteça um forçado corte de custos e uma redução nos fluxo de caixa nas matrizes.

As demais categorias incluem as empresas que têm maior dependência de receitas vindas da Europa e as que possuem uma porcentagem relevante de custos operacionais no continente.

Nesses grupos, o diagnóstico é que Iochpe-Maxion, Embraer (MYPK3), Weg (WEGE3), Natura (NTCO3), Klabin (KLBN11), Suzano (SUZB3), CSN (CSNA3), Aeris (AERI3) e Tupy (TUPY3) são as mais expostos à Europa. A exposição dessas empresas é de 20% ou superior. Para essas companhias, há boas e más notícias no caminho.

Pela análise do Santander, um inverno rigoroso em ambiente de escassez de energia pode tornar algumas dessas empresas mais competitivas por não enfrentarem os mesmos custos de energia de grupos locais concorrentes.

Tupy, Weg e Klabin, por exemplo têm forte concorrência no norte e no centro da Europa, que são as áreas de maior risco de menor oferta de gás da Rússia.

Demanda por eficiência energética

A visão está linha com análise recente do Itaú BBA sobre uma perspectiva positiva para os negócios da Weg. Um relatório assinado por Daniel Gasparete aponta que a fase crítica da Europa pode acelerar a necessidade de eficiência energética, com possibilidade de isso se traduzir em maior demanda por motores de baixa tensão.

“Acreditamos que isso possa sustentar um impulso positivo de ganhos para a Weg na região, permitindo assim que a empresa ganhe participação em um grande mercado”, afirmou, destacando que a empresa tem sete plantas no continente.

O Brades BBI tem a mesma visão é lembrou que, em 2019, a Weg fechou contrato com a empresa química francesa Arkema para substituir todos os motores elétricos em suas plantas na Europa, resultando em economia de energia elétrica de até 8%.

A visão otimista, de um futuro de busca pela eficiência energética e por fontes mais limpas, foi corroborada em artigo recente de Fatih Birol, diretor executivo da IEA, para o Financial Times. Ele escreveu que, depois do inverno vem a primavera.

“Os choques do petróleo da década de 1970 resultaram em grandes progressos em eficiência energética, energia nuclear, solar e eólica. A crise de hoje pode ter um impacto semelhante e ajudar a acelerar a mudança para um futuro energético mais limpo e seguro.”

Fonte:InfoMoney