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Enquanto no acumulado do ano até agosto, a atividade industrial do Brasil cresceu 1,4% em relação ao mesmo período de 2010, quatro Estados – Ceará, Santa Catarina, Pernambuco e Bahia – registraram contração na mesma comparação, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O caso cearense apresenta a pior baixa: puxada pela queda nos setores têxtil e de calçados, a produção industrial total caiu 14,4%. Já em Santa Catarina, influenciada por têxtil e maquinas e equipamentos, a contração foi de 4,6%. Para a indústria, a valorização do real neste ano e o aumento da inflação diminuíram as vendas, mas a tendência é de recuperação parcial nos próximos meses.

Os Estados do Nordeste estão com alguns dos piores índices de produção industrial do país em razão de grande parte de sua atividade estar voltada a setores como o têxtil e o de calçados, segmentos que mais sofrem com a presença dos importados no mercado nacional, segundo avaliação do pesquisador do IBGE, Fernando Abritta. “Grande parte da produção industrial nordestina está voltada para o setor externo, enquanto a atividade de Estados como Paraná, Goiás e Espírito Santo está mais concentrada na economia interna”, afirma Abritta, para quem a indústria paulista está “apenas ligeiramente superior à média nacional por ser mais diversificada”.

A maior contração na indústria cearense foi no setor têxtil. De janeiro a agosto deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, a produção caiu 22,2%. Em calçados e artigos de couro o recuou foi de 26,46%. Alimentos e bebidas (queda de 7,46%) e refino de petróleo e álcool (queda de 29,85%) também tiveram peso na redução total. Para o economista chefe da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Pedro Jorge Viana, como a produção depende da exportação e do mercado interno, as condições macroeconômicas não estavam favorecendo os pontos fortes da indústria cearense. “A formatação do nosso parque industrial é vulnerável. Com o real valorizado e a inflação, perdemos competitividade lá fora, e os brasileiros compraram menos nesses setores”, afirmou.Em Santa Catarina, têxtil e máquinas e equipamentos diminuíram a produção. Enquanto o primeiro setor encolheu 19,52%, o segundo ficou 11,48% negativo até agosto. A Bahia, que segue os catarinenses de perto com queda de 4,21%, teve produção menor principalmente em produtos químicos, com 11,39% negativos (e peso de 3,48% na queda total), refino de petróleo e álcool, com menos 6,1%, e metalurgia básica (-13,43%). Já a indústria de Pernambuco diminuiu 2,42% no acumulado do ano, puxada principalmente por alimentos e bebidas (-6,28%) e metalurgia básica (-12,13%).

Os baianos foram atingidos principalmente pela diminuição na produção da Petrobras, de acordo com Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “As indústrias no Nordeste estão mais ligadas aos setores têxtil, alimentação e bebidas, e os relativos ao petróleo. Na Bahia, por exemplo, tem mais a ver com estratégia da Petrobras de produção e investimento do que com preço”, disse, para depois explicar que alterações macroeconômicas do país afetam Estados com indústrias menos diversificadas. “A indústria como um todo, no país, está desacelerando. Mas locais com poucos setores, se o desempenho de um ou outro piora, o índice total fica mais sensível.”

Apesar da queda no acumulado, a previsão para os próximos meses é de retomada da produção das indústrias, como a de calçados. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), na soma entre agosto e julho, no setor, as contratações já superam as demissões em 1.117 vagas no Ceará. No entanto, no acumulado do ano, o número ainda é negativo em 496 vagas. Na comparação de agosto com julho, cearenses e catarinenses apresentam crescimento nesse mês na atividade industrial, de 1,5% e 1,9%, respectivamente. A perspectiva é que as empresas voltem a contratar para aumentar o estoque e as vendas, além de aproveitar o recente ganho de competitividade nas exportações, segundo Pedro Jorge Viana. “As variáveis como vendas, horas trabalhadas e produção cresceram em agosto. Trabalhamos com a perspectiva de reversão da curva descendente de produção”, afirmou.

Se o Nordeste e Santa Catarina puxaram a produção para baixo, o Espírito Santo teve melhor taxa, com alta de 9,2% no ano. Também em forte ritmo de expansão estão Goiás, avanço de 5%, e Paraná, alta de 4,8%. São Paulo, que corresponde a 40% da indústria, subiu 2,3%.
Fonte: Valor Econômico