Fonte: DIÁRIO CATARINENSE
Mas não dá para festejar
Santa Catarina é o Estado com o menor índice de pessoas em situação de miséria, que sobrevivem com até R$ 70 por mês
Santa Catarina é o Estado que tem o menor índice de pessoas recebendo até R$ 70 por mês proporcionalmente à população. É o que indicam os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Seria uma boa notícia, caso as informações do IBGE não apontassem que estão na linha da miséria 16,2 milhões de brasileiros – 59% no Nordeste -, 102,6 mil catarinenses.
Nos dados preliminares sobre SC, Lages apareceu com a maior quantidade de domicílios onde a renda por pessoa não ultrapassa os R$ 70, em números absolutos, sem levar em conta o tamanho da população. Dos 11.926 lares catarinenses na linha da extrema pobreza, Lages concentra 461. A cidade é seguida por Joinville, com 301, e Chapecó, com 263.
Em Florianópolis, a arrecadação por integrante da família não passa de R$ 70 em 242 casas. São casos como o de Patrícia Borba. A jovem mora com a mãe, a tia, as três primas, os dois irmãos e o filho Cauê, de três anos, em uma comunidade no Bairro Ingleses, da Capital. Mesmo com moradia própria, a renda de R$ 570 para as nove pessoas (R$ 63,3 por pessoa) praticamente elimina as possibilidades de melhorar as condições de vida. Neste valor estão incluídos os R$ 70 do Bolsa Família.
– Se tem que escolher entre comprar comida ou fralda, imagina se dá para reformar a casa ou sair do bairro? Não tem como – diz Patrícia.
Arrumar emprego de camareira ou vendedora também está difícil para a moça de 21 anos, já que todos exigem experiência ou uma qualificação profissional que ela não tem. Vizinha de Patrícia, Lúcia Tibes, 21 anos, sabe das dificuldades para trabalhar. Lúcia estudou até a 5ª série, não tem com quem deixar os filhos e nem dinheiro para andar de ônibus. Por isso, há anos não consegue mais vaga como auxiliar de cozinha.
O salário de R$ 400 do marido Paulo Córdova não é suficiente para o casal, que tem dois filhos e um terceiro que vai chegar em sete meses. Carne é artigo raro na mesa e Lúcia diz que faltam ainda mais itens de comida quando Paulo, que é pedreiro, termina uma obra e passa algum tempo desempregado.
– Minha mãe trabalha na reciclagem e até ajuda, mas eu não gosto.
Os serviços sociais passam longe da casa de Lúcia. Ela não faz parte de programas e não sabe nem onde deveria se cadastrar. O que está bem presente na vida da família são as areias das dunas da praia, que invadem os três cômodos de madeira.
– A areia está vindo, a casa caindo… não é fácil – lamenta.
O sonho da família é ter ajuda do governo para construir uma casa.
LimiteCom base em dados técnicos, o governo considera pobreza a renda familiar mensal per capita (por pessoa) de até R$ 140 e extrema pobreza de até R$ 70.
Bolsa FamíliaQuem tem direito – Família com uma renda mensal por integrante de até R$ 70
Quanto recebem – Benefício básico de R$ 70 + R$ 32 por filho de até 15 anos, limitados a três por família + R$ 38 por adolescente de 16 e 17 anos, no máximo de dois por família.
GABRIELLE BITTELBRUN