Em desempenho acima do esperado na pandemia, a economia catarinense registrou retomada de crescimento em “V”, ritmo puxado pela indústria que avançou mais que a média brasileira e vai ampliar investimentos em 2021. A análise é do presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, e foi feita na tarde desta quarta-feira, durante entrevista virtual sobre como foi o ano de 2020 ao setor e perspectivas para 2021.

O fundo do poço para o setor industrial foi o mês de abril, quando faturou R$ 16,3 bilhões, segundo dados da Secretaria de Estado da Fazenda. Daí iniciou produção acima do esperado e fechou outubro com receita bruta de R$ 26,6 bilhões, 63% maior que a receita de abril. Dos R$ 60,5 bilhões faturados pela economia de SC em outubro, 44% veio da indústria, destaca o presidente da Fiesc.

Um dos pontos altos do setor no ano foi a geração de empregos. A indústria e a construção civil, juntas encerraram o período de janeiro a outubro com saldo positivo de 48.907 vagas, após perder 46.516 nos três primeiros meses da pandemia. Esse desempenho ajudou SC a fechar os 10 meses com 35.210 novos empregos, o maior saldo positivo do país.

– Santa Catarina é um estado industrial. O setor emprega com bons salários. SC tem um desempenho muito significativo por conta da diversidade industrial, do empreendedorismo que é próprio do industrial catarinense, que tem obtido crescimento acima da média nacional – explicou Aguiar.

No período de janeiro a outubro, dos 14 setores industriais pesquisados, com base no dados da Fazenda estadual, sete cresceram e sete tiveram redução. O setor de alimentos e bebidas, que é o principal da indústria do estado, teve alta de 23,4% no período. A indústria de equipamentos elétricos cresceu 17,8%, seguido por celulose e papel (7,9%), móveis e madeiras (7,3%). Mas a maior alta ocorreu num setor pouco representativo da indústria de SC, o de fármacos e equipamentos de saúde, que cresceu 33,6%. Os produtos químico-plásticos cresceram 1,8% e a indústria diversa, 5,3%.

Entre os setores que tiveram retração de receita até outubro estão o de têxteis e confecções, que é o segundo mais relevante do estado em faturamento e caiu 14,6%. O setor de tecnologias de comunicação recuou 20,1%, seguido pelo setor automotivo, com queda de 15,3%, óleo e gás (-11,3%), máquinas e equipamentos (-10,9%), mecânica e metalurgia (-7,5%) e indústria cerâmica (-2,3%). Mas de acordo com o assessor econômico da federação, Pablo Bittencourt, esses setores com resultado negativo até outubro são os que mais estão crescendo agora.

Dados da economia catarinense até novembro de 2020
Dados da economia catarinense até novembro de 2020

(Foto: Fiesc)

Sobre as pressões inflacionárias, o presidente da Fiesc afirmou que houve uma desorganização, tanto em função de mudança de consumo quanto de produção, que acabou resultando em alta de preços. A expectativa é de que volte à normalidade e existem indicadores mostrando que não haverá impacto na inflação no médio prazo. Aguiar explica que é uma questão de mercado e os setores que estão identificando a uma demanda maior vão adequar a sua produção, investir. Chama a atenção, segundo ele, o percentual de 74% de indústrias com planos de investimentos para o próximo ano, a maior intenção dos últimos anos.

Questionado se a indústria catarinense cogita comprar vacina contra a Covid-19 para imunizar trabalhadores, Aguiar disse que essa é uma questão importante e é esperada uma decisão do governo federal. Segundo ele, o Sesi/SC tem uma experiência significativa com vacinas contra a gripe. Havendo disponibilidade de adquirir vacina, o Sesi poderá fornecer para a indústria de SC.

Para o ano que vem, o presidente da Fiesc, projeta um crescimento acima da média nacional para a economia catarinense e para a indústria. Ele considera a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) de crescimento de 2,8% da economia brasileira em 2021 uma estimativa baixa. Acredita que SC avançará mais do que isso.

Um dos fatores que vão ajudar o Estado é o comércio exterior porque existem boas expectativas de retomada de crescimento econômico nos EUA, Europa e Ásia. No exterior, a principal preocupação é a Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil, que teve queda do PIB acima da média mundial em 2020. Mesmo assim, a Fiesc vê condições de retomada no país vizinho, com aumento de exportações.

Entre as condições que colocam em dúvida a esperada forte retomada econômica de 2021, a Fiesc cita o fim do auxílio emergencial, a dúvida sobre altas das taxas de juros e a fragilidade das contas do setor público, que teve que gastar mais na pandemia. A expectativa é de que o Congresso faça as reformas necessárias e ajude a reduzir essa insegurança dos investidores.

Via NSCTotal – Coluna Estela Benetti