De um lado estão os Estados Unidos, que importam nada menos do que aproximadamente US$ 500 bilhões da China. Do outro lado está o gigante asiático que importa do seu principal parceiro comercial, os EUA, US$ 150 bilhões. O presidente americano, Donald Trump, de olho nesse desequilíbrio comercial e nos riscos de hegemonia futura, argumenta que os chineses não estão respeitando propriedade intelectual e lança barreiras. Na semana passada, anunciou sobretaxa para US$ 200 bilhões importados do mercado chinês e avisou que, se os asiáticos seguirem retaliando, ampliará as restrições. O governo chinês, por sua vez, anunciou taxação de US$ 60 bilhões de importações dos EUA.

Analistas internacionais e empresas admitem que a guerra comercial reduz o crescimento global. Mas qual é o impacto dessa guerra para a economia catarinense? A princípio, são mais oportunidades de negócios, tanto com a China quanto com os Estados Unidos, mas é preciso que as empresas adotem a estratégia de internacionalizar os negócios de forma consistente, avalia a presidente da Câmara de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), Maria Teresa Bustamante. Há setores que já atuam com a China e podem ampliar negócios, como é o caso de proteína animal e madeiras. Para Bustamante, o momento demanda prospecção comercial.

– São mercados que exigem conhecimento, dedicação. Não basta simplesmente ter um bom produto final. Vamos olhar para a indústria de Santa Catarina. Temos fabricantes de matérias-primas, produtos acabados e temos também inteligência em função do desenvolvimento das startups, que mostram claramente a capacidade intelectual das nossas empresas. A provocação que faço é sair dessa retórica do mais do mesmo, pensar só no produto acabado. Se há barreiras, é possível fazer uma aliança estratégica e fornecer para um outro país – aconselha a executiva. 

Na avaliação do consultor empresarial Henry Uliano Quaresma, CEO da Brasil Business Partners e ex-diretor da Fiesc, que se dedica a negócios com o mercado chinês, O comércio internacional não é binário. É como o fluxo de um rio. Se tiver barreira, vai transbordar.

Os produtos chineses e investimentos serão redirecionados para países parceiros mais próximos, para a Europa e América Latina, enquanto os americanos pagarão mais caro por produtos da China e receberão menos investimentos do país asiático.  

– Caberá ao Brasil se conectar com estes novos canais para identificar as oportunidades e conseguir gerenciar os riscos, pois teremos uma oferta de produtos ampliada para importar e ampliação das nossas exportações para o mercado Chinês. Um dos pontos que deverão merecer grande atenção será o aumento de preços no mercado brasileiro para aqueles produtos que forem alavancados na exportação, como o caso da soja – explica Quaresma.

As agroindústrias produtoras de frango, que perderam espaço no mercado europeu devido à Operação Carne Fraca, estão buscando novos negócios em outros países, especialmente na China. Mas o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), José Antônio Ribas Junior, diz que essa mudança comercial EUA-China ainda não gera impactos diretos nas exportações do setor. 

– Eu acho que é muito cedo para esse impacto. Esse aumento que estamos tendo é resultado de trabalho anterior a esse litígio comercial. Se a China realmente entender o Brasil como um parceiro importante para atender seu abastecimento de carnes, tanto o Brasil quanto Santa Catarina serão bastante demandados porque qualquer movimento da China envolve grandes volumes – afirma Ribas, para quem é necessário habilitar mais plantas de aves para atender os chineses. 

As oportunidades existem nos dois grandes mercados. O câmbio favorável agora é mais um fator a ajudar os empresários de Santa Catarina nesses desafios. 

 

Aos chineses

A balança comercial catarinense, que tinha os EUA como principal destino, fechou o período de janeiro a agosto tendo a China como maior mercado. Nesses oito meses, obteve 15,49% do faturamento no mercado chinês, com crescimento de 37,02%. Os EUA foi para o segundo lugar, com 14,64% do total e queda de 2,7% no ano. Para o consultor Henry Quaresma, a cadeia portuária de SC será fortemente beneficiada nesta fase. Ele vê também oportunidades para atrair mais investimentos chineses. 

 

Via NSCTotal – Coluna Estela Benetti