O Produto Interno Bruto (PIB) oficial do estado sai com atraso de dois anos, por isso a gerência de indicadores do governo catarinense, que tem à frente o economista Paulo Zoldan, faz projeções trimestrais. A última, que incluiu os 12 meses até setembro, apurou que a economia de Santa Catarina teve queda de 1,6% na comparação com igual período anterior. A variação é mais que o dobro da registrada pelo IBGE para os mesmos quatro trimestres, que registrou queda de 3,4%, o que confirma a performance melhor do estado, mesmo sob o forte impacto da pandemia.

Segundo o economista, os indicadores do quarto trimestre do ano, divulgados até agora, também mostram bom ritmo de atividade econômica, o que sinaliza resultado um pouco melhor para o ano. Entre os setores que se destacaram nos 12 meses até setembro estão a agropecuária, construção civil e serviços.

Graduado em economia pela UFSC com mestrado em desenvolvimento econômico pela Universidade de Lieden, da Holanda, Zoldan é o técnico que acompanha a maioria dos indicadores econômicos do Estado e faz as projeções. Ingressou como servidor pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa), mas está cedido para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDE). É ele quem faz o boletim trimestral Indicadores Econômico-Fiscais. Nesta entrevista, ele cita diversos outros indicadores do estado e explica respectivos desempenhos.

Qual e a estimativa para o PIB catarinense até setembro?

Fazemos essa estimativa a cada três meses. Ela é baseada na estrutura do PIB do estado de Santa Catarina. Como o PIB é divulgado com uma defasagem de dois anos em função da necessidade de atualização dos indicadores, a gente faz essa estimativa para conhecer a realidade da economia mais de perto. Era uma necessidade do estado porque não tínhamos PIB trimestral em SC. Fazemos essa estimativa para ter dados próximos da realidade da nossa economia. Ela é baseada em indicadores seguros, a maior parte do IBGE. Temos essa função de fazer isso a cada trimestre. A publicação que estamos fazendo agora se refere aos quatro trimestres encerrados em setembro. São 12 meses, em relação aos 12 meses anteriores.

Com esse processo da pandemia, a economia de Santa Catarina entrou numa retração forte, mais intensa no segundo trimestre e, agora, acumula queda de 1,6% em 12 meses. Na estimativa anterior, relativa aos 12 meses encerrados em junho, a retração ficou em 1,3%. Agora, pegamos dois trimestres cheios da pandemia. É claro que seria melhor se estivéssemos crescendo, mas tudo é relativo. Se fizermos uma comparação com outros estados do país ou com a própria média brasileira, SC está melhor. O dado do PIB nacional, revelado esta semana pelo IBGE, mostra que no mesmo período o Brasil teve uma queda de 3,4%. Isso é um pouquinho mais do que o dobro da retração nossa. Isso mostra que o estado teve um desempenho um pouco melhor do que a média brasileira.

A expectativa, no mundo todo, era de que a recessão causada pela Covid-19 seria muito profunda. Para Santa Catarina, será uma queda menor do que a da recessão de 2015 e 2016?

No começo da pandemia, todo mundo estava fazendo projeções no escuro porque não sabia se a crise sanitária duraria alguns meses ou muito mais. Por isso, originalmente, se estimou que a queda seria maior em nível global. Depois, os números passaram a ser revisados para recuos menores. Foi assim também em SC. Se imaginava uma queda muito maior, mas não foi o que ocorreu, muito embora alguns setores tiveram grande retração, especialmente algumas atividades de serviços que ainda não voltaram. A própria indústria de transformação teve uma queda importante, mas na média do PIB a gente está com essa retração de 1,6%, o que não é um número de todo ruim.

Esse resultado contou com a influência da agropecuária, que cresceu 3,3% nos últimos 12 meses, sendo que a pecuária cresceu 6,9%. Embora o peso do setor seja pequeno, o bom resultado dinamiza a economia. Este ano, tivemos recuperação de preços de grãos e carnes.

Os serviços, que incluem o comércio, tiveram queda de 0,3% em 12 meses. E o comércio catarinense vem crescendo não só no estado, mas está ganhando participação dentro do comércio brasileiro. São redes de supermercados e lojas de departamento investindo em expansão. Isso impacta no PIB. Sobre os serviços, o que está impactando mais negativamente são aqueles prestados às famílias (hotéis e restaurantes) que têm queda de 20,7% nos últimos 12 meses até setembro, em função da crise sanitária.

A indústria catarinense, no acumulado dos 12 meses, caiu 5,7% e a indústria de transformação recuou 7%. Mas a construção civil, que registra forte recuperação, cresceu 7,7% no período.

A economia brasileira já vinha desacelerando antes da pandemia?

Sim! Isso já estava acontecendo. Em 2017 o PIB do Brasil teve crescimento pequeno, de 1,3%, os números de 2018 foram revisados agora e subiu para 1,8%. Em 2019 foi um crescimento 1,4% e, agora, teve retração de 3,4%. Se observa que desde 2016, há quatro anos consecutivos, SC vem tendo um desempenho superior ao da média brasileira, o PIB brasileiro está crescendo bem abaixo do catarinense.

Em 2015, o PIB do estado caiu 4,2% e em 2016, 2,0%. Inclusive em 2015 o estado teve uma queda maior que a da média brasileira, mas em 2016 já começou a se recuperar.

O que ajudou SC ter um resultado melhor do que o Brasil?

São vários fatores que influenciam o desempenho econômico de um estado, de uma nação. Santa Catarina se destaca por uma série de questões, tem indicadores de competitividade diferenciados há vários anos e atrai mais investimentos. Somos o segundo estado mais competitivo há vários anos. No último ranking nacional do Centro de Liderança Pública (CLP), divulgado recentemente, entre os 70 indicadores, avançamos em cerca de 30. Entre esses indicadores que se destacam estão a segurança pública, qualificação dos trabalhadores, escolaridade das pessoas e logística. E depois tem os mantras de sempre. Um deles é a diversidade da nossa economia. E claro, o pagamento do auxílio emergencial foi importante para amenizar o impacto na pandemia no país, o que ajudou a elevar as vendas de empresas catarinenses. Até porque SC foi o estado com o menor percentual de pessoas a receber auxílio emergencial. Em junho, 20,9% das famílias haviam recebido o benefício.

Considerando setores econômicos, como ficamos frente a outros estados nos últimos 12 meses?

Para se ter uma ideia de como estamos, eu considerei os estados com as maiores economias para fazer algumas comparações. Entre os 12 estados maiores geradores de serviços, nos últimos quatro trimestres tivemos o segundo melhor desempenho do país, embora com recuo de 5%. Já estivemos muito mais atrás. Em comércio, tivemos o terceiro melhor desempenho do país entre 15 estados. Na indústria, ficamos em 11º lugar e no emprego, após ficar em primeiro lugar o ano passado inteiro, fomos para o 4º lugar agora. Estamos atrás do Pará, Mato Grosso e Goiás, que tiveram atividades com crescimento mais rápido.

O número de novas empresas em SC também chama mais atenção?

A abertura de novas empresas é um dos diferenciais. Se você olhar os dados da Junta Comercial do Estado (Jucesc), vê que o acréscimo de novas empresas é expressivo mês a mês. O último número de empresas constituídas no estado até 30 de novembro supera o total de 2019. Além disso, há uma fila de empresas querendo investir em Santa Catarina. Estão em negociação, estão sondando os estados que têm melhores condições. Muitas empresas avaliam a qualidade de vida aos executivos para instalar empresas e, nesse aspecto, SC se destaca com menos violência, menos engarrafamentos e menores custos.

Como foi o comércio exterior até setembro?

Após dois meses de queda, as exportações voltaram a crescer. Elas tiveram alta de 9,8% em novembro em relação a outubro. No ano, estamos com 9,4% de queda, maior que a média brasileira. As importações estão em ritmo maior. Cresceram 27% em novembro frente ao mês anterior. Elas tiveram resultado positivo pelo quinto mês consecutivo, embora ainda acumulem queda de 9%. SC está pior do que a média do Brasil em exportações porque o país exporta mais commodities, como carnes e grãos e esses produtos tiveram aumentos de preços. O estado exporta mais industrializados, segmento que é mais prejudicado pela pandemia no mundo. Além disso, tem a crise da Argentina, que é o nosso terceiro principal mercado, só atrás dos EUA e China. As importações crescem porque somos um Hub portuário. Somos o terceiro estado mais importador do país. Isso desenvolve uma série de serviços e eleva o PIB regional. Um exemplo é o impacto do crescimento no entorno do complexo portuário de Itajaí e Navegantes.

Como a economia catarinense vai fechar 2020?

Todos indicadores mostram um quarto trimestre bom. A própria arrecadação tributária de outubro e novembro do estado mostra sinais positivos, de que a economia está girando mais. Se olharmos a produção de matérias-primas no estado, houve um crescimento expressivo, sem falar que as festas de final de ano sempre aquecem a economia catarinense. Entre os setores em alta está a construção civil, que teve vários anos de dificuldades, mas voltou a fazer lançamentos, vender mais imóveis, contratar mais trabalhadores.

É certo que teremos um Natal pior que o do ano passado, mas vamos ter, no quarto trimestre, um crescimento maior do que no terceiro. Teremos uma melhora nos indicadores em geral, mas esperamos uma retração na pandemia para ter sossego.

Qual é o cenário para o ano que vem, na sua avaliação?

Para 2021 há toda uma onda de otimismo sobre a vacinação contra a Covid-19. Se isso se concretizar, é provável que a economia tenha um bom crescimento, até porque vai crescer sobre uma base fraca. SC, como está com taxa mais elevada de crescimento, é provável que tenha um ritmo menor e fique com um patamar próximo da média nacional. A economia de SC ainda é muito voltada ao mercado interno. Deverá ser puxada pela economia brasileira.

Via NSCTotal – Coluna Estela Benetti