Do couro se faz a correia

Numa democracia, são normais as discussões sobre temas que levam a interpretações diversas, porém, de forma civilizada. Até então, o que vinha ocorrendo em relação ao sistema vigente em 31 de julho, quando os defensivos agrícolas estavam sob o abrigo das isenções, como se a chave fosse virada, era uma verdadeira batalha, que se trava em 1º de agosto, a partir do momento que se passou a tributar esses produtos. E o cabo de guerra vai esticando e resistindo até que ambos percebam que nessa luta não haverá vencedor, ou quando o mais forte arrastar o de menor expressão. De um lado, o governo, sob a ótica das entidades de classe que se dizem prejudicadas, intransigente na sua proposta original de cortar os incentivos já no dia seguinte ao término. Fortalecida do outro, a classe empresarial, apoiada pelo parlamento ditando novas regras e prazos.

Sinuca de bico
As discussões, antes de ficarem restritas ao ambiente interno, têm que olhar além das fronteiras. O governo vem trabalhando com a proposta de harmonização tributária, principalmente com os estados do Sul. Espremida entre Paraná e Rio Grande do Sul, Santa Catarina não pode avançar muito com suas ideias independentes, sob pena de perder mercado, empresa, emprego e tributos.

Campos de ações
Diante do acirramento entre o público e o privado, a coluna sugere o diálogo. Há muitas ponderações a fazer no campo da ideologia, saúde, economia e tributação. Quanto à primeira, seguem as brigas nas redes sociais, como se as eleições ainda estivessem por vir. O tu contra nós, como anjos e demônios, persegue as mídias, interferindo em outros segmentos, enfraquecendo projetos em áreas cruciais para o desenvolvimento da nação. A briga entre direita e esquerda é a ferramenta dos “cabeças duras”, que só enxergam um palmo à frente do nariz. Nenhuma contribuição! Em se tratando da agricultura orgânica, sem uso de agrotóxicos, da qual a adesão avança nas classes sociais média e alta, uma excelente contribuição à melhoria da saúde, tão precária.

Campos de ações 2
Por necessitar de trabalho mais apurado, exigindo esforço maior e, por consequência, o produto final não apresentar aparência exuberante, com custos agregados, o mercado torna-se menos competitivo, dificultando o acesso às classes menos favorecidas. Esses produtos esbarram naqueles que recebem os defensivos, produzindo uma agricultura de larga escala, competitiva e rentável. Na parte fiscal, os governos não abrem mão de arrecadação. Do zero, antes, e agora com 17%, é de se esperar uma defesa ferrenha pela mudança de tributação. São alguns dos aspectos a serem ponderados, resultando no dito popular ‘que do couro se faz a correia’.

Emaranhado burocrático
A interferência do parlamento no processo, alterando prazos, tem causado consequências inglórias à classe empresarial, devido às alterações nos seus sistemas. Créditos fiscais, operações internas e externas, empresas que negociam ou possuem filiais em outras unidades federadas, um verdadeiro inferno aos profissionais da contabilidade e financeira. Depois de efetivadas as ações, ter que retroagir para corrigir ou equacionar as operações só vai gerar tempo gasto e prejuízos comerciais e financeiros.

Dicas de português
Erros a abolir nos e-mails: Ratificar/Retificar. Ratificar é o mesmo que confirmar. Ex.: Os dados ratificam a revisão. Retificar é o mesmo que corrigir. Ex.: Vou retificar os dados da empresa. Fonte: EST/SEF/PR.

Refletindo
“E o que dizer do Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição, que desde 1988 engaveta processos sobre suspeição de seus Ministros?”. (Fonte: Pesquisa Datafolha). Uma ótima semana!

Por Pedro Herminio Maria  – Auditor Fiscal da Receita Estadual SC