Secretário da Fazenda pediu demissão para cuidar da defesa após aparecer em delações da Odebrecht e da JBS

Antonio Gavazzoni, 42, disse que chegou ao seu limite à frente da Secretaria da Fazenda. Pediu demissão nesta segunda-feira. Após enfrentar questões emblemáticas, como a reforma da Previdência dos servidores públicos e a revisão da dívida com a União, em um contexto de crise severa, o catarinense de Xanxerê alegou que não tem mais a “enérgica disposição para enfrentar os problemas do Estado”. O pedido de exoneração é para ter dedicação exclusiva à sua defesa, após as delações da Odebrecht e da JBS.

Gavazzoni fala aos colaboradores da Fazenda - Julio Cavalheiro/Secom/ND
Gavazzoni fala aos colaboradores da Fazenda – Julio Cavalheiro/Secom/ND

 

Não será possível conciliar a rotina da secretaria com a nova tarefa, afirmou Gavazzoni. “Ao longo de 11 anos, trabalhei 14 horas por dia. Tu nunca me encontraste em festas, lançamentos de licitação, mas sempre quando teve algum problema”, disse ao ND, após se despedir da equipe, no último dia de trabalho no Centro Administrativo. A partir de agora, dará foco à defesa do currículo ante “informações inverídicas, sem pé nem cabeça”.

Negociações suspeitas para a compra de ações da Casan são narradas em duas delações premiadas que vieram a público até agora. A Odebrecht cita R$ 17 milhões em doações para campanhas do governador Raimundo Colombo (PSD) e aliados, desde 2010. Já a JBS fala no repasse de R$ 10 milhões. Nos dois casos, rebatidos pelo Executivo, a estatal é colocada como centro do interesse das empresas. Também nos dois momentos, o nome de Gavazzoni é envolvido.

Questionado sobre essa coincidência, o ex-secretário relembra que, em 2011, o governo aprovou um plano para a venda de ações. Um ano depois, desistiu, em função do passivo da empresa pública. “Foi tomado um caminho diferente, o governo passou a capitalizar a Casan, com um investimento de R$ 2 bilhões”, completou. Para Gavazzoni, empresas do ramo tiveram conhecimento público do plano inicial.

“Há um esforço retórico para colocar a Casan no meio do nada. Falam em propina, como se em algum momento nós parássemos uma reunião e fossemos falar desse assunto”, rebateu, antes de subir o tom contra os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS e do diretor Institucional Ricardo Saud. “Temos que parar de ser passivos, temos que reagir. Estão igualando todos a qualquer picareta. Eles estão milionários, morando no exterior, livres de condenações. É injusto e dolorido”, completou.

Quanto ao envolvimento do nome em negociações da empresa pública de água e saneamento, o ex-secretário rechaçou. “Eu nunca tratei de nada sobre a Casan, não estava sob a minha alçada”, garantiu. Também perguntado se solicitou doações para a campanha de Colombo, mesmo lícitas, de acordo com a lei vigente até então, mais uma vez, respondeu que não era sua função.

A decisão de deixar o cargo tira de Gavazzoni o foro privilegiado. “Todo mundo se agarra no poder. Eu estou fazendo diferente. Não temo nada”, completou.

Ponto final na vida pública

Eleito segundo suplente de senador, em 2010, tendo como titular Luiz Henrique da Silveira (PMDB), Antonio Gavazzoni sempre teve o nome citado como um possível candidato até mesmo ao governo do Estado. Essa pretensão, por enquanto, está descartada. “Não vim para o governo com a obcessão de ser candidato. Tenho ainda menos a partir de agora, com tudo que está acontecendo no país”, garantiu. Nos planos, além da defesa, projeta o exercício da advocacia e do magistério. “Acho que cumpri a minha missão no serviço público”, completou.

Gavazzoni é cumprimentado por colegas - Julio Cavalheiro/Secom/ND
Gavazzoni é cumprimentado por colegas – Julio Cavalheiro/Secom/ND

 

O governador Raimundo Colombo lamentou a saída de Gavazzoni, quem classificou como “uma das pessoas mais brilhantes, inteligentes e dedicadas do governo”. “Sempre um dos primeiros a chegar, um dos últimos a sair. Uma colaboração extraordinária e com uma eficiência incrível. É preciso destacar sua correção, dedicação e contribuição ao Estado”, afirmou, listando, ainda, “qualidades humanas”. “A gente se tornou amigo, eu admiro ele”, acrescentou. Colombo espera que Gavazzoni possa rever a decisão de deixar o serviço público e possa “voltar a contribuir com o Estado” no futuro.

Quem é Antonio Gavazzoni

  • Natural de Xanxerê, Oeste catarinense
  • Formado em Direito pela Unoesc (Universidade do Oeste de Santa Catarina)
  • Mestre e doutor em Direito Público pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)
  • Foi procurador-geral do Município de Chapecó e professor na Unoesc, na Esmesc (Escola Superior da Magistratura de Santa Catarina) e na Unipar (Universidade Paranaense)
  • De 2007 a 2008 foi secretário de Estado da Administração
  • De dezembro de 2008 e março de 2010 foi secretário de Estado da Fazenda pela primeira vez
  • De janeiro de 2011 a dezembro de 2012 assumiu as presidências da Celesc Holding e suas subsidiárias integrais, Celesc Distribuição e Celesc Geração
  • De janeiro de 2013 até 22 de maio de 2017 foi secretário de Estado da Fazenda pela segunda vez

Conquistas no cargo reconhecidas

Ao deixar a secretaria da Fazenda, Antonio Gavazzoni listou conquistas que colocam Santa Catarina em um contexto diferenciado dos demais Estados brasileiros. “Nós vencemos a crise sem aumentar impostos, mantivemos os salários em dia. Tivemos um aumento de receitas, diminuindo os gastos no custeio da máquina pública”, relacionou, destacando a reforma da Previdência dos servidores públicos e a renegociação das dívidas do Estado com a União. “Somos o único Estado do país que faz investimentos, enquanto que o Brasil está quebrado”, acrescentou, citando avanços na saúde, educação e segurança publica, com a contratação, por exemplo, de 7.000 policiais.

Seu sucessor será Almir José Gorges, 61. Auditor fiscal da Secretaria de Estado da Fazenda por 39 anos, Gorges se aposentou em dezembro do ano passado, quando estava como secretário-adjunto. Desde então, mantinha um escritório de advocacia junto com a filha. Foi Gorges quem implantou o programa “Estado na Medida”, sendo defensor da melhoria nos processos e da produtividade. Também é referência em ICMS. Seu livro “Dicionário do ICMS – O Seu Plantão de A a Z” já está na 14ª edição. “Tenho certeza que ele continuará o trabalho desenvolvido até aqui”, projetou Gavazzoni.

Almir José Gorges é o novo secretário da Fazenda - Divulgação/ND
Almir José Gorges é o novo secretário da Fazenda – Divulgação/ND

Via ND