Se alguém afirmasse anos atrás que o Brasil teria taxa básica de juros de 2% ao ano, como as grandes economias desenvolvidas, ninguém acreditaria. Mas com a pandemia e seus impactos na economia do país e do mundo, chegamos lá. Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) fez mais um corte na taxa básica Selic, que caiu de 2,25% para 2% ao ano. Assim, o Brasil passou a ter taxa real (descontada a inflação) de juro negativa em -0,71%. Mas na vida real de um país que sempre praticou juros excessivamente altos, essa mudança dificilmente chega de forma expressiva ao usuário final, pessoa física e jurídica.

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Nessa escalada de Selic baixa – mais uma pequena queda pode vir em setembro – o bom alívio é para o governo federal, que paga taxa mais baixa para rolar sua gigantesca dívida e, assim, sobra mais para as despesas correntes. Afinal, neste ano, essas despesas subiram de forma exorbitante em função do novo coronavírus, que exigiu socorro para todos: pessoas de baixa renda, empresas, estados e municípios.

Mas, apesar desse juro Selic baixo, as linhas de crédito fácil e rápido para pessoas e empresas continuam com custos nas alturas. Os bancos argumentam que isso é necessário em função do risco que correm no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito, por exemplo. O juro é baixo, mas o spread (diferença entre o custo de captação do dinheiro e o valor emprestado) é alto. Pessoas físicas que recorrem ao cheque especial seguem pagando de 6% a 8% ao mês, em média, o que no acumulado dá em torno de 150% ao ano. Esse é o custo efetivo total em bancos comerciais, segundo o levantamento do Banco Central.

Para empresas, o uso do cheque especial é ainda mais caro, aponta esse mesmo levantamento do BC. O custo efetivo nos bancos comerciais fica em torno de 13% ao mês, o que leva a perto de 350% ao ano. Se a empresa solicitar linha crédito para capital de giro para pagar em um ano, o custo cai de forma expressiva, segundo o BC. Fica em torno de 1% ao mês, o equivalente a 11% a 12% ao ano. Mas para ter acesso a linha assim, a pessoa precisa ter crédito no banco e dar uma garantia.

Grandes programas de crédito, como os para aquisição de imóveis e custeio agrícola terão redução relativa da taxa anual de juros nos grandes bancos. O crédito agrícola, por exemplo, terá redução de 6,99% ao ano para 5,59% ao ano, segundo o Banco do Brasil.

Esses números do BC mostram que, apesar da aparente vantagem da Selic a 2%, o tomador de crédito precisa estar atento para não perder tanto dinheiro recorrendo a linhas de crédito fáceis. O custo do dinheiro no Brasil segue caro.

Via NSCTotal – Coluna Estela Benetti