Resultado positivo no acumulado do ano no Estado é puxado pelo desempenho de serviços e da indústria da transformação

Se 2018 já tivesse terminado, Santa Catarina teria a melhor geração de empregos desde 2013, quando o Estado ostentava 76,7 mil postos de trabalho. De janeiro a outubro, dados do Caged apontam que o Estado tem atualmente saldo de 54,8 mil vagas formais. O resultado também supera em mais de 100% o desempenho de todo o ano passado, quando SC tinha 29,4 mil novas vagas e era líder na geração de empregos no Brasil. Os responsáveis pela retomada econômica estadual têm nome: serviços e indústria da transformação.

O balanço das contratações e demissões dos dois setores equivale a 84% das vagas de todo o Estado neste ano. Serviços lidera a lista dos oito setores avaliados pelo Ministério do Trabalho com saldo de 23,6 mil vagas no período. Cerca de 10,9 mil foram criadas em decorrência do comércio e administração de imóveis, valores imobiliários e serviços técnicos.

— O setor de serviços sente os reflexos de uma crise muito rápido. Ele é um dos primeiros a demitir, mas também quando há otimismo é o primeiro a contratar. Santa Catarina tem ainda um diferencial de se recuperar mais rápido por ter multissetores, pulverizados no Estado todo — analisa o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de SC, Ivan Tauffer.

Recuperação industrial gera efeitos positivos

Já na indústria da transformação, que ostenta saldo positivo de 22,5 mil postos de trabalho, a boa fase é reflexo do aumento da produção industrial. Segundo balanço anual da Fiesc divulgado na semana passada, o setor cresceu 4,4%. As vendas (13,3%), a exportação (4,8%) e a importação (24,1%) também estão em alta. De janeiro a outubro, a indústria de madeira e do mobiliário foi o destaque conseguindo contratar mais do que demitir.

— O importante e mais significativo é a tendência de geração de emprego. É importante também ressaltar que nem todos os empregos perdidos (na crise) serão recuperados. Há uma modernização do setor produtivo com aquisição de novos equipamentos. Isso é imposto pela modernidade e pela produção global para que tenhamos uma indústria competitiva, que será mais dependente da tecnologia do que da aplicação efetiva da mão de obra — analisa o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar.

Alta na construção e administração pública

Com melhor desempenho no acumulado de 2018 ainda estão a administração pública (4,7 mil vagas) e a construção civil (4,1 mil). No ano passado, os dois setores fecharam com saldos negativos. Especialistas explicam que, na verdade, o que acaba dando destaque à administração pública é o fato de o setor privado ter contratado menos e, aliado a isso, o modo como são feitas as contratações e demissões.

— Na iniciativa privada, a empresa demite o funcionário, mas no público não existe esse lado da demissão tão forte. O que tem é o fim dos contratos temporários, mas no geral há uma estabilidade — contextualiza Thiago Otuki, mestre em economia e economista do Clube FII, da área imobiliária.

Já na construção civil é diferente. Helio Bairros, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon), projeta que o setor tem condições de voltar a ser um dos maiores empregadores do Estados. Bairros ainda explica que o saldo positivo no setor é decorrente de algumas questões:

— Em primeiro lugar, foi a primeira definição das questões políticas, que eram um fator complicador, que geravam insegurança. Em segundo, por consequência disso, o ânimo dos empresários em tirar projetos da gaveta e contratar. Por último, os juros e a taxa Selic, que estão em um patamar estável.

Comércio perde protagonismo, mas segue otimista

O comércio não teve um bom ano. Mesmo não estando em déficit no saldo da criação de vagas até outubro, o setor amargou seis meses com mais demissões do que contratações. Comparado ao desempenho em 2017, quando encerrou o período com criação de 7,8 mil empregos, há queda de 93% atualmente. Se o ano já tivesse terminado, o comércio teria saldo de 553 postos criados.

— Esse setor tem uma sazonalidade característica que costuma contratar mais no fim do ano e demitir mais no começo. Entre 2015 e 2016 houve uma perda muito grande de empregos no setor e, entre 2017 e 2018, um pequeno crescimento, que não foi suficiente para voltar a níveis anteriores — analisa Luciano Córdova, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-SC).

Apesar dos tropeços, há expectativa de melhora para 2019. Córdova leva em conta a contratação e a chance de efetivação de temporários. A Fecomércio-SC estima abertura de 5 mil vagas em serviços e 2 mil no comércio.

Agropecuária teve percalços e registrou queda

O agronegócio passou por dificuldades. De janeiro a outubro, foram seis meses demitindo mais, o que resultou em um saldo negativo de 1.612 postos. O vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado (Faesc), Enori Barbieri, recorda que desde a Operação Carne Fraca o setor perdeu credibilidade internacional.

Barbieri também atribui o baixo desempenho ao embargo de carnes pela União Europeia. As consequências foram vistas com excesso de frango no mercado interno, redução de abates e funcionários dispensados temporariamente, além da paralisação dos caminhoneiros.

— Estávamos tratando como um ano perdido, mas felizmente as coisas começaram a se reverter, gerando até certo otimismo. Não só em função da questão eleitoral, mas principalmente pelo câmbio, que gerou euforia no mercado de exportação — analisa Barbieri.

Via NSCTotal