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Famílias pobres, com orçamento comprometido por transporte e alimentação, sofrerão mais

A retomada dos impostos federais sobre a gasolina e o etanol pelo governo Lula (PT) a partir desta quarta-feira (1º), o que provocará o reajuste de preços nas bombas dos postos de combustíveis, deve também pressionar a inflação de outros grupos de bens e serviços para além do setor de transportes. A avaliação é da economista Ivoneti Ramos, também professora de finanças públicas do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc Esag).

Ela afirma que o maior impacto deverá ser reconhecido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, de abril, mas que isso já passará a ser evidente agora em março.

— O combustível está na base de toda a produção. Costumo dizer que ele é o tempero da economia. Então, se acontece um aumento da gasolina e do etanol, que são muito utilizados, a chance disso se espalhar em alta de preços na economia é muito grande. É um dos motivadores de aumento de preços, então isso impacta na inflação de modo generalizado — explica a professora.

Ramos pondera ainda que a gasolina exerce menor repercussão sobre a economia do que o diesel, usado no transporte de cargas, mas que, ainda assim, vai pressionar o orçamento das famílias, especialmente das mais pobres, que têm a maior parte da renda comprometida com transporte e alimentação.

— Quem é mais rico tem maior elasticidade no orçamento, então consegue acondicionar esse aumento de uma forma mais fácil. A inflação atinge de forma mais impactante quem é mais pobre, porque tem mais dificuldade de realocar esse custo. Ele perde poder aquisitivo não só pelo combustível, mas para outros produtos, como alimentos, que têm preços impactados pelo reajuste — acrescenta.

Conforme publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, o economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), André André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), calcula que a reoneração dos combustíveis vai impactar a inflação em 0,32 ponto percentual.

Ao anunciar a retomada parcial dos impostos federais nesta terça (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também reconheceu que haverá impacto sobre a inflação. Ele afirmou, contudo, que isso será visto apenas a curto prazo e que, se levado em conta um cenário mais amplo, a medida terá um efeito justamente no sentido oposto, por contribuir para um reequilíbrio fiscal pretendido pelo governo.

— Do ponto de vista econômico, as medidas que estão sendo tomadas hoje são benéficas para a inflação no médio e longo prazo, o que abre espaço, segundo o Banco Central, para a queda da taxa de juros — disse Haddad, fazendo menção à ata mais recente de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão atrelado ao BC que define a taxa de juros básica, a Selic, hoje em 13,75% ao ano.

O ministro afirmou que a desoneração foi iniciada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por interesses eleitorais e que compromete as contas públicas. Disse ainda que a reoneração parcial é parte de um plano para adequar arrecadação aos gastos, o que, junto de uma eventual revisão do arcabouço fiscal e de uma reforma tributária, permitirá ao BC rever a taxa de juros, medida com capacidade de impulsionar os investimentos e o acesso ao crédito no país. Isso tudo viabilizaria a retomada da economia.

Via Diário Catarinense