Para analistas, retomada anêmica fará BC conter alta dos juros mesmo diante de pressões inflacionárias. Isso só deve mudar se as expectativas se deteriorarem também para os próximos anos, o que poderá ocorrer com o dólar a R$ 4,25

A taxa básica de juros (Selic) permanecerá inalterada ao longo de 2018 em 6,5% ao ano, mesmo após o Banco Central (BC) indicar, no comunicado e na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que uma elevação não está descartada nos próximos meses. Quem acompanha com lupa os diversos relatórios divulgados pela equipe de Ilan Goldfajn está convencido de que a Selic não aumentará mesmo que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o ano mais próximo de 5%, acima do centro da meta de 4,5%.
Eventuais choques de preços que elevem o resultado anual do IPCA, destacam os analistas, serão absorvidos pela banda de 1,5 ponto percentual do regime de metas para a inflação. Com isso, o BC não precisará subir os juros. “Assim como não baixaram os juros ainda mais em 2017 para a inflação ficar acima do piso de 3%, eles não elevarão os juros a curto prazo, já que indicaram que o horizonte da política monetária tem como objetivo os 18 meses seguintes”, explica o economista Rafael Cardoso, da Daycoval Investimentos.
A alta da Selic só ocorrerá, explica Cardoso, se as expectativas de inflação para 2019, 2020 e 2021 desancorarem. As estimativas dos economistas coletadas pelo BC apontavam, até a semana passada, que as taxas para os próximos três anos estão, respectivamente, em 4,1%, 4% e 4%, abaixo ou no centro da meta. Em 2021, a meta é de 3,75%. Para 2018, o indicador subiu, nas últimas seis semanas seguidas, para 4%, patamar inferior ao objetivo central. Cardoso explica que, mesmo após o BC retirar da comunicação os próximos passos da política monetária, indicou de maneira qualitativa que o cenário básico é de manutenção da Selic em 6,5% ao ano, pelo menos até dezembro.
O economista da Daycoval Investimentos detalha que a comunicação do BC sinalizou que a alta do dólar nos últimos meses teve impacto concentrado nas projeções de inflação de 2018. Além disso, ao revisar a estimativa para crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,6% para 1,6%, a equipe de Ilan Goldfajn indicou que o nível de ociosidade da economia não deve pressionar os preços. “Com expectativas ancoradas para os próximos anos, o BC pode usar as bandas a curto prazo para acomodar uma eventual alta da inflação. A instituição teria uma reação simétrica, como a de 2017, quando a inflação ficou em 2,95% e não baixou ainda mais os juros para o custo de vida voltar para a meta”, destaca.
Os principais riscos para a inflação que levariam o BC a subir os juros, comenta a economista-chefe da CM Capital Markets, Camila Abdelmalack, são a disparada do dólar e o cenário eleitoral. No primeiro caso, ela afirma que, no mercado, as estimativas apontam que o repasse cambial para os preços seria mais intenso se a divisa norte-americana estivesse cotada entre R$ 4,10 e R$ 4,30. “Na minha avaliação, isso ocorreria com o dólar cotado a R$ 4,25. Mesmo assim, só se a moeda ficasse nesse patamar por algum tempo. Não basta alcançar esse valor”, diz.
Ela ressalta que o risco de repasse da alta do dólar para a inflação a curto prazo diminuiu com as atuações do BC no mercado para reduzir a volatilidade por meio da venda e swaps cambiais e por meio dos leilões de linha. No campo eleitorais, explica Camila, os riscos são maiores, diante da imprevisibilidade de quem será eleito presidente da República.
A economista destaca que o BC não faz comentários explícitos sobre o processo eleitoral, mas se manifesta sobre o tema, de maneira sutil, quando fala da necessidade de continuidade dos ajustes e das reformas para reequilibrar as contas públicas. “Se for eleito alguém que não é simpático ao mercado, as estimativas para inflação tendem a aumentar. Isso é um risco para a alta de juros”, alerta.
Para ela, diante das incertezas, a decisão do BC de retirar da comunicação as sinalizações futuras do Copom foi adequada. “Em um cenário com tamanha volatilidade, de incertezas domésticas e internacionais, a autoridade monetária acertou em deixar o cenário em aberto. São muitas variáveis para se analisar”, afirma.

Eleições

Na opinião do economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, o mercado tem reagido excessivamente aos dados das pesquisas de intenção de votos divulgadas a curto prazo.
Para Camargo, as pesquisas terão influência mais forte nos preços a partir de agosto, quando estarão definidos os nomes que irão para as urnas. A partir daí, destaca, a depender dos resultados, o cenário será mais calmo ou mais volátil, como foi em 2002. “Uma coisa que precisa ficar clara é que, sem a reforma da Previdência, a situação fiscal não será resolvida, e o BC será obrigado a subir juros”, diz.
Apesar das incertezas, o economista da Opus comenta que o encarecimento do dólar a curto prazo ainda não afetou as expectativas de inflação. Entretanto, ele alerta que, se esse processo de elevação no custo da divisa norte-americana permanecer por um período maior, as estimativas do mercado serão afetadas.
Via Correio Braziliense