A queda no consumo das famílias no primeiro trimestre foi o principal fator para a permanência da trajetória declinante da economia brasileira no período, afirmou a gerente de Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Claudia Dioniso. Ela observou que, assim como em trimestres anteriores, nos primeiros três meses de 2016 foram observados, novamente, fatores de desestímulos ao consumo, como piora do emprego e renda, oferta de crédito restrito e patamares ainda elevados de inflação e de juros.

O consumo das famílias caiu 1,7% entre janeiro e março, ante quarto trimestre de 2015, e teve recuo de 6,3% na comparação com primeiro trimestre de 2015. Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, um indicativo de investimentos) diminuiu 2,7% ante o quarto trimestre de 2015, com taxa negativa de 17,5% em relação ao trimestre inicial do ano passado. Rebeca comentou que o consumo das famílias tem peso em torno de 63% no PIB e FBCF, de 17%. “O peso de consumo das famílias foi muito maior.”

Embora a queda de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano tenha menos intensa do que as anteriores, não representa reversão na trajetória de declínio da economia brasileira, avaliou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. “O cenário no primeiro trimestre não se modificou muito em relação ao trimestre passado. Não houve mudança de conjuntura. O PIB ‘andou de lado’”, afirmou ela.

Quando questionada se o recuo menos intenso não poderia ser interpretado como indício de trajetória inicial de melhora na economia, Rebeca disse que, na prática, a conjuntura da economia piorou de forma rápida ao longo do ano passado e as condições macroeconômicas no primeiro trimestre deste ano continuaram muito ruins, embora não tenham piorado de forma tão significativa como na passagem dos trimestres ao longo de 2015.

A representante do IBGE notou que os cenários de inflação e de juros no primeiro trimestre de 2016 ficaram praticamente iguais aos do quarto trimestre de 2015. Rebeca citou médias inflacionárias de 12 meses apuradas pelo IPCA, de 10,45% no quarto trimestre de 2015 e de 10,1% nos primeiros três meses de 2016. Outro exemplo citado por ela foi a média da meta de juros, de 14,3% no quarto trimestre de 2015 e de 14% no primeiro trimestre deste ano. “Talvez emprego e renda tenham se deteriorado mais, em comparação com o quarto trimestre. Mas, em termos de conjuntura, de maneira geral, não houve uma mudança significativa [no primeiro trimestre]”, afirmou.

Em contraponto ao consumo das famílias, o comércio exterior contribuiu positivamente para a economia no início de 2016. Os movimentos de exportações em alta e importações em queda ajudaram na formação de quedas menos intensas no PIB em diferentes comparações no período de janeiro a março, notou Rebeca.

Ela lembrou que, no primeiro trimestre de 2016, as exportações subiram 13% na comparação com igual trimestre de 2015, com expansão de 6,5% ante o quarto trimestre do ano passado. Já as importações caíram 21,7% ante primeiro trimestre de 2015, com recuo de 5,6% ante quarto trimestre do ano passado.

Contribuíram para o resultado das vendas externas a leve recuperação de preços das commodities agropecuárias no começo do ano, notadamente soja e milho, que impulsionou as exportações destes produtos no intervalo.

Além disso, apontou, o dólar em alta no período, o que favoreceu as exportações brasileiras de maneira geral.

O câmbio também foi o motivo das retrações nas importações brasileiras, observou a coordenadora do IBGE. Isto porque o dólar alto na prática não estimula compras importadas por parte do empresariado. “Podemos dizer que as exportações e as importações têm peso semelhante na economia. Mas em termos de contribuição, o recuo das importações foi mais importante, pois as quedas foram mais intensas [do que os aumentos das exportações]”, explicou Rebeca.

O peso das exportações no PIB gira em torno de 13%; enquanto as importações do PIB representam em torno de 14,3% da economia, acrescentou Rebeca.

Via Valor Econômico