Os dados do relatório do setor externo, publicado ontem pelo BC, mostram ainda que o investimento estrangeiro superou com folga as expectativas da instituição

Investidores estrangeiros praticamente dobraram os investimentos no setor produtivo brasileiro no ano passado. Segundo o Banco Central (BC), o saldo dos Investimentos Diretos no País (IDP) foi de US$ 90,6 bilhões, volume 95% superior ao apurado em 2021 (US$ 46,4 bilhões). Com isso, alcançou o maior valor dos últimos 10 anos.

Os dados do relatório do setor externo, publicado ontem pelo BC, mostram ainda que o investimento estrangeiro superou com folga as expectativas da instituição — que, no fim de setembro, havia revisado sua estimativa de IDP para US$ 80 bilhões. Vale lembrar que, durante a pandemia, o saldo desses recursos desabou. Em 2020, por exemplo, o total havia sido de US$ 37,79 bilhões, volume que subiu para US$ 46,4 bilhões. O forte crescimento percentual do ano passado, portanto, ocorreu em comparação com uma base deprimida.

Mesmo assim, o montante aplicado por estrangeiros no setor produtivo foi bastante significativo. Ao divulgar os dados, o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, explicou que o investimento direto no país corresponde a operações de longo prazo, voltado para a ampliação da capacidade produtiva das empresas estrangeiras no país ou em novos projetos. “Isso em geral é interpretado como uma confiança do investidor nas perspectivas da economia brasileira, com as oportunidades que ele teve de investimento.”

O IED é diferente dos investimentos em carteira no mercado doméstico, representados por aplicações em ativos financeiros, que podem ser de curto prazo. Em dezembro, por exemplo, em termos líquidos, esses ingressos somaram US$ 4,1 bilhões, dos quais US$ 2,1 bilhões em ações e fundos de investimento e US$ 2 bilhões em títulos de dívida.

O IED é importante porque significa uma fonte de recursos mais estável para financiar o balanço de pagamentos do país (o registro da entrada e da saída de recursos na economia). O valor do ano passado foi mais que suficiente para cobrir o deficit da conta de transações corrrentes (o saldo da balança comercial, de serviços e fluxo de rendas), que somou US$ 55,7 bilhões. Para Rocha, a estimativa é que os investimentos diretos permaneçam no mesmo patamar neste ano.

No caso das aplicações financeiras, segundo Bruno Yui, assessor da Dom Investimentos, o que ajudou o fluxo foi a elevação do preço das commodities, como minério de ferro, soja e petróleo, das quais o país é grande produtor e exportador. Segundo ele, basicamente 30% do índice composto por ações ligadas a commodities acabaram por se beneficiar bastante desse fluxo comprador na bolsa. “Isso aconteceu por conta uma combinação de fatores como a guerra na Ucrânia e a reabertura das atividades chinesas, que trouxeram uma demanda maior por esse tipo de produto”, explicou.

Via Correio Braziliense