Após um início de ano decepcionante e um segundo trimestre bastante afetado pela paralisação dos caminhoneiros, analistas não descartam um crescimento econômico em um ritmo inferior ao registrado em 2017.

Embora a mediana de economistas ouvidos pelo Banco Central indique alta do PIB de 1,5% em 2018, alguns cenários alternativos já apontam para algo entre 0,7% e 0,8%.

Há indícios robustos de que a atividade econômica se comportou muito abaixo do esperado no primeiro semestre, o que levou os analistas a uma primeira rodada de revisões.

Em março, a alta esperada para o PIB de 2018 encostava em 3%, com alguns economistas prevendo algo acima disso. Mas a realidade se impôs.

Um mercado de trabalho que combina um nível de desemprego alto e resistente com geração de vagas de baixa qualidade vem minando as expectativas de retomada mais forte do crédito e do consumo.

Isso e o ruído político ligado ao ciclo eleitoral que se aproxima são apontados como as principais variáveis a pesar em um possível novo movimento de correções para o PIB.

Jonathas Goulart, economista da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), não descarta um avanço ao redor de 0,7% da atividade econômica.

A falta de confiança do setor produtivo, diz ele, seria o motor de uma possível revisão de suas projeções, hoje em 1,7%.

“A indústria precisa entender para onde vai a economia para voltar a fazer investimentos, e isso depende muito das eleições”, diz Goulart.

David Beker, economista-chefe do Bank of America Merrill Lynch, prevê alta de 1,5% para o PIB deste ano, mas diz que o ruído político deve se intensificar nos próximos meses, elevando os riscos para o processo de recuperação.

Com um cenário de dúvidas sobre a governabilidade do próximo governo, além da possibilidade de tomar corpo uma agenda econômica eleitoral hostil ao mercado, o crescimento poderia ficar em 0,8% neste ano, com queda em 2019, diz Beker, em relatório.

Maurício Oreng, economista-chefe do Rabobank, diz ser mais fácil ver o PIB perto de 1% do que 2%. Comércio e serviços concentram as maiores preocupações, já que aquilo que o consumidor deixou de fazer em razão da paralisação —como uma ida ao restaurante— ficou para trás.

“Embora ainda seja menos provável, a chance de o PIB ficar abaixo de 1% existe”, diz Oreng, cuja previsão está em 1,6%, com viés de baixa.

Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, mantém a previsão de bom desempenho da indústria, impulsionado por bens de consumo duráveis e bens de capital. Mas a paralisação, diz ele, deixará marcas na confiança, além das dificuldades criadas pela tabela de frete.

Via Folha de S. Paulo