Invasão da Ucrânia pela Rússia pressionou barril do petróleo e deve ter impacto na inflação

Em meio ao impacto da guerra na Ucrânia sobre o barril do petróleo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou nesta quarta-feira (2) que colocou na pauta de votação da Casa que comanda o pacote de projetos de lei que busca a reduzir o preço dos combustíveis.

Pacheco comunicou a decisão em uma rede social. “Na próxima semana, os dois projetos de lei que trazem medidas para controlar a escalada dos preços de combustíveis (PLP 11/2020 e PL 1472/2021) estarão na pauta do Senado”, disse.

“Mais do que nunca, diante do aumento do valor do barril de petróleo, precisamos tomar medidas que impeçam a elevação do preço dos combustíveis.”

A invasão da Ucrânia pela Rússia e o impacto das sanções contra o país comandado por Vladimir Putin levaram o barril do petróleo a superar US$ 110 nesta quarta pela na primeira vez desde 2014. O aumento deve pressionar os preços de combustíveis no país e servirá como teste sobre a resistência da Petrobras com sua política de reajustes.

No último dia 24, o diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Cláudio Mastella, disse, em entrevista, que os preços dos combustíveis no Brasil não devem subir imediatamente. Segundo ele, a empresa vai aguardar a evolução do cenário internacional antes de decidir por repasses.

O efeito do aumento dos combustíveis sobre a inflação preocupa a equipe do ministro Paulo Guedes (Economia), que teme que o avanço nos preços internacionais do petróleo intensifique a busca do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do Congresso por iniciativas populistas e, na prática, ineficazes para tentar segurar a alta.

No Senado, dois projetos tentam amenizar as altas. Impasse com governadores, no entanto, tem retardado a apreciação dos textos. Na semana passada, a votação foi adiada por Pacheco após senadores pedirem mais tempo para discutir as propostas, relatadas pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN).

Ele também se manifestou nesta quarta sobre a alta de preços e destacou a cotação de US$ 114 do barril de petróleo. “O petróleo tipo Brent, referência no mercado internacional, teve alta de 8,38% e na manhã desta quarta estava cotado a US$ 113,77. É urgente a aprovação dos projetos que podem baixar os preços de combustíveis e do gás de cozinha no Brasil”, escreveu em uma rede social.

No dia 22, o senador apresentou novos pareceres para os dois projetos de lei, nos quais recuou em alguns pontos importantes na busca de construir um acordo para a votação, mas não conseguiu obter consenso no Senado.

Um dos projetos prevê a criação de uma conta de estabilização usada para amortecer oscilações nos preços dos combustíveis, em especial devido a variações nos valores internacionais do petróleo. As fontes de financiamento seriam receitas com royalties de petróleo, participações especiais e dividendos pagos pela Petrobras à União.

Na visão da equipe econômica, essa medida custaria caro e sem qualquer garantia de alteração substantiva na dinâmica de preços. Por isso, a avaliação no time de Guedes é que não adianta recorrer a esse tipo de solução.

O outro estabelece que os estados terão a opção de criar uma alíquota única de ICMS sobre os combustíveis. Mas, enquanto isso não for implementado pelos governadores, o imposto sobre o diesel e o biodiesel deverá ser cobrado sobre uma base de cálculo definida, obtida pela média móvel dos últimos cinco anos.

A regra, tratada como uma “transição”, valeria até 31 de dezembro de 2022. Na prática, o texto atua de forma mais contundente para que os governadores mexam na estrutura do imposto.

Em outubro do ano passado, a Câmara aprovou um texto que previa a cobrança das alíquotas de ICMS com base na média de preços dos dois anos anteriores —como foi aprovado em 2021, a base de cálculo seria 2019 e 2020. O projeto também determinava a adoção das alíquotas cobradas por litro consumido (modelo “ad rem”).

Jean Paul, no entanto, descartou inicialmente a versão aprovada pelos deputados, argumentando que poderia haver vício de inconstitucionalidade, por invadir a autonomia dos estados.

O Senado, Casa legislativa mais próxima aos governadores, havia considerado o texto da Câmara invasivo em relação às prerrogativas dos estados. Por isso, o projeto de lei acabou inicialmente sendo colocado na geladeira. Após a alta da inflação e a cobrança pública do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o presidente do Senado decidiu articular para avançar nas propostas e tentar conter novas altas.

A alíquota única, quando implementada, deverá ser aplicada sobre gasolina, diesel, etanol e gás de cozinha. Na mudança mais recente, o senador Jean Paul Prates também incluiu o querosene para aviação. Embora unificadas entre os estados, as alíquotas poderão ser diferenciadas por tipo de combustível, de acordo com o texto.

Apesar das mudanças, os estados se mantinham contra as alterações. “A implementação de alíquota uniforme em um novo regime acarretaria fatalmente em aumento de carga tributária”, diz o Comsefaz (Comitê de Secretários Estaduais de Fazenda). Segundo a entidade, estados com menor carga tributária teriam de elevar suas alíquotas para assegurar que os demais estados mantenham o mesmo patamar de receitas.

Via Folha de São Paulo