As reformas e as chantagens

Agora é pra valer. Com o fim das festas de “momo”, o país se volta às suas principais demandas constantes da agenda. Quem tem tomado a frente é o Poder Legislativo, talvez por inércia do Executivo ou por não dispor de um contingente necessário para atacar suas prioridades estratégicas. Em plena Quarta de Cinzas, caminhando para o fim de fevereiro, as reformas tributárias e administrativas seguem firmes na ordem do dia. Não se sabe por que tanta pressa em aprovar as mudanças consideradas estruturantes sem que se tenha uma discussão profunda com a sociedade. Seria a proximidade do período eleitoral, quando a maioria do parlamento estará à mercê das eleições municipais? De extremas necessidades, todos sabem, porém não se pode fazer a toque de caixa, sob pena dos prejuízos serem incalculáveis às gerações presentes e futuras. É bem verdade que, em nenhum momento, quando aprovadas, satisfarão a todos os segmentos. Que o digam as trabalhistas e da previdência, que rendem reclamações, provocando ações na Justiça.

Paredes têm ouvidos

Com as rédeas às mãos, o Congresso seguirá jogando pesado, provocando falas como a do general Augusto Heleno. Mas, antes disso, um rápido giro na história sobre palavras proferidas sem o devido cuidado. Uma delas remonta à França do século 16, mais especificamente aos conflitos políticos e religiosos. “A rainha Catarina de Médicis, esposa de Henrique II (rei da França), perseguia implacavelmente os huguenotes. Para saber quem eram seus inimigos, mandou fazer uma rede com tubos acústicos nos tetos do palácio real, o Louvre. Isso permitia escutar com perfeição o que se falava nos outros cômodos. Esse método de espionagem permitiu que acontecesse a matança conhecida como a Noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572)”.

Escândalo da parabólica
Mais recente é a fala que derrubou um ministro. “Resultado de uma transmissão vazada em 1 de setembro de 1994, de uma conversa entre o embaixador Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda do Brasil, e o jornalista da Rede Globo Carlos Monforte, seu cunhado, enquanto se preparavam para entrar no ar ao vivo no Jornal da Globo. Essa transmissão foi feita por meio do canal privativo de satélite da Embratel, acessível pelos lares com antena parabólica. Nela, Ricupero afirmou: “Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim, a gente esconde”. O vazamento ficou conhecido como o escândalo da parabólica.

Fala polêmica
Agora foi a conversa do general Augusto Heleno que gerou a polêmica. “A fala do ministro foi transmitida na terça-feira (18), ao vivo, via internet, pelo perfil do presidente Jair Bolsonaro em uma rede social. A transmissão mostrava o evento de hasteamento da bandeira em frente ao Palácio da Alvorada. Heleno estava conversando com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o ministro da secretaria de governo, Luiz Eduardo Ramos. No diálogo, Heleno diz que o governo não pode “aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo”.

Fundo de verdade
Pois é. O Congresso, com esse poderio todo aliado à fama de ditar as regras do jogo, utiliza-se de artimanhas, deixando perplexos os demais poderes e a população. A classe política tem propiciado episódios relacionados a orçamento e outros de igual teor e valor que se chega à conclusão de que há fundo de verdade nas palavras do general quando se refere às chantagens.

Refletindo
“Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” – “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). Tema e lema – Campanha da Fraternidade 2020 – Uma ótima semana!

Por Pedro Hermínio Maria – Auditor Fiscal da Fazenda Estadual de SC