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Contexto econômico brasileiro não apresenta “deflação” e diminuição do custo de produtos tem relação com alterações na cobrança de impostos

A queda da inflação no Brasil nos últimos três meses, que acumulou baixa de 1,33%, aliviou o bolso dos consumidores. Entretanto, o contexto econônimo ainda não pode ser intitulado “deflação”, visto que não há baixa generalizada nos valores de produtos. Em 2022, o país somou 4,09% de aumento nos preços em nove meses, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). 

Em uma situação de deflação, haveria uma queda universal dos preços e tudo que se consome ficaria mais barato para a população. A explicação é do coordenador do Núcleo de Índices de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz.

— Todos os preços estariam mais baixos em uma deflação, a queda da inflação seria generalizada. E não em apenas uma parcela específica dos setores — esclarece o professor.

A queda atual do IPCA foi puxada pela redução de valores relativos a transporte, comunicação e alimentação. Esses grupos tiveram as maiores baixas de preços em setembro, quando a inflação total foi de -0,29%, e em agosto, quando fechou em -0,36%. No mês de julho, a variação mensal foi de -0,68% por conta dos transportes que, sozinhos, registraram redução de 4,51% em relação a junho.

Esses grupos de produtos e serviços foram impactados diretamente por mudanças na cobrança de impostos, com alterações restritas a eles, após atualizações na legislação tributária.

— Agora, a baixa é resultado da redução de imposto. Impulsionada pela queda da gasolina, telecomunicações e energia — diz.

Em junho, a Lei Complementar 194/2022 estabeleceu que transportes, combustíveis, energia e telecomunicações são produtos essenciais à população. Por isso, o teto máximo para cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias de Serviços (ICMS) nos estados foi reduzido para 17%. A medida acarretou na baixa dos preços e na freada da inflação. 

A queda mais expressiva foi da gasolina. Em julho, o combustível teve baixa de 14% em comparação com o mês anterior depois da redução do imposto. Já em agosto e setembro, as reduções de preço da própria Petrobras influenciaram a continuação da diminuição. 

Apesar disso, vestuário, saúde e despesas pessoais são grupos que não sofreram diminuição dos preços e nem desaceleração da inflação nos últimos três meses. 

Índice desmente “deflação”

Para o professor de Economia, há uma “prova real” de que não há deflação no Brasil. Ela é obtida por meio do cálculo do Índice de Difusão, que mede o percentual de itens com aumento de preços em um período de tempo.

— Nos últimos seis meses, o índice de difusão se manteve acima de 60%. Isso prova que não temos uma queda generalizada nos preços e não há deflação — justifica Braz.

A observação de quantos itens tiveram aumento no preço desmente a ideia de que todos os produtos estão ficando mais baratos, o que pode parecer real quando alguns poucos itens sofrem grandes variações mensais.

Tendência é de estabilização dos preços

Pela queda dos últimos meses ser reflexo de políticas tarifárias do governo, a tendência é que os preços dos produtos se estabilizem. 

— Não tem mais o que captar, de onde tirar para deixar os produtos mais baratos. Daqui para frente isso não ajuda a manter a inflação negativa — explica o professor. 

Segundo Braz, a expectativa dos pesquisadores e analistas de preços ao consumidor é que, em outubro, o IPCA não feche com índice negativo. Pelos cálculos do professor, a expectativa é que seja registrada alta moderada de 0,4% em relação a setembro. 

Via Diário Catarinense