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Comunicado repete que altas podem ser retomadas se desinflação não ocorrer como esperado

Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve o patamar dos juros inalterado pela terceira reunião consecutiva nesta quarta-feira (7) e vai encerrar 2022 com a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano. Apesar da manutenção da taxa, o colegiado fez alertas para o risco fiscal —em tom lido como mais duro por analistas.

No comunicado, o Copom repetiu o aviso de que “não hesitará em retomar o ciclo de aumento de juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, podendo ajustar seus passos futuros.

“A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal, requer serenidade na avaliação dos riscos. O comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, disse.

As turbulências recentes no cenário fiscal relacionam-se, sobretudo, à PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, que prevê cerca de R$ 168 bilhões de despesas para bancar promessas de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O texto foi aprovado pelo plenário do Senado nesta quarta e segue agora para a Câmara, onde precisará do aval de 308 deputados.

Marco Caruso, economista-chefe do banco Original, ressalta que o BC fez uma mudança sutil na sua avaliação ao incluir a palavra “elevada” quando se refere à incerteza fiscal. “Ele dá um pequeno passo em uma piora no balanço de riscos”. “É um Banco Central em compasso de espera por uma definição do lado fiscal”, acrescenta.

Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e atual presidente do conselho da Jive|Mauá Investments, a autoridade monetária correspondeu às expectativas do mercado financeiro.

“O mercado esperava que ele fosse mais duro e ele foi. O BC está trazendo esse aumento de risco que os próprios ativos brasileiros estão demonstrando, o câmbio depreciou nas últimas semanas, a Bolsa caiu, a curva de juros subiu. Se esse aumento da curva de juros se perpetuar por um ano, ele custa perto de R$ 100 bilhões a mais para o Tesouro”, afirmou.

Segundo o economista, ao adotar uma postura mais firme, o BC sinaliza que pode adiar o corte de juros em 2023. “Quando ele aumenta o tom de preocupação, é explícito que pretende ficar mais tempo com a taxa de juros como está, se não tiver que elevar ao longo do tempo”, disse.

Para Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, o BC “coloca uma mensagem de cautela, esperando a reação desse desdobramento fiscal”.

Apesar do alerta sobre a questão fiscal, o BC manteve o balanço de riscos para a inflação simétrico. Entre as condições que puxariam os preços e as expectativas para cima, destacou a persistência das pressões inflacionárias globais, a elevada incerteza sobre o arcabouço fiscal e a pressão vinda da economia menos ociosa, em particular do mercado de trabalho.

Na direção contrária, ressaltou a queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, a acentuada desaceleração da atividade econômica global e a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023.

A autoridade monetária reforçou a mensagem de que se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período “suficientemente prolongado” será capaz de assegurar o controle da inflação.

Após ser elevada para 13,75% em agosto, a Selic foi mantida nesse patamar nas reuniões de setembro, outubro e de dezembro. O ciclo de aperto monetário (alta da taxa básica) foi interrompido depois de o BC ter promovido o mais agressivo choque de juros desde a adoção do regime de metas para inflação, em 1999.

Foram 12 aumentos consecutivos, com elevação de 11,75 pontos percentuais, no período entre março de 2021, quando a Selic saiu de seu piso histórico (2%), e agosto deste ano.

A decisão do Copom veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que a Selic continuaria estável em 13,75%. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa unânime entre os economistas consultados.

Frente às despesas adicionais do governo, os analistas têm revisado suas estimativas de inflação. Segundo o Focus, a projeção do mercado para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu para 5,92% em 2022.

Em 12 meses, o IPCA acumulou alta de 6,47% até outubro, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para este ano, há consenso de que a inflação deve estourar a meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,5% —com flexibilidade de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Para 2023, as expectativas atingiram 5,08% e já se encontram acima do máximo permitido no intervalo de tolerância (4,75%). A previsão para 2024 se mantém estável em 3,5% –acima do centro da meta (3%).

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação subiram de 5,8% para 6% para este ano e de 4,8% para 5% para 2023. Para 2024, o colegiado elevou a previsão de 2,9% para 3%.

Hirakawa, da AZ Quest, observa que a autoridade monetária revisou suas expectativas de inflação para cima, embora tenha reduzido as projeções de preços administrados, categoria que engloba combustíveis. Segundo ela, isso é um indicativo de que o BC vê uma composição pior de inflação para 2023.

Em relação à atividade econômica, o BC observou que a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) apontou um ritmo de crescimento mais moderado no terceiro trimestre. “O conjunto dos indicadores mais recentes corrobora o cenário de desaceleração esperado pelo Copom”, afirmou.

O Copom volta a se reunir nos dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro de 2023 para calibrar o patamar da Selic. No ano que vem, o colegiado do BC terá 2024 na mira, considerando a defasagem dos efeitos da política monetária sobre a economia.

Via Folha de São Paulo