O Brasil é o país com a maior taxa de juros reais do mundo. Alta interfere na inflação e no crescimento econômico

O Brasil é o país com a maior taxa de juros do mundo, segundo ranking global de juros reais (taxas de juros atuais descontadas a inflação projetada para os próximos 12 meses) da Infinity Asset em parceria com o MoneYou. As altas taxas de juros geram preocupação mundial em razão do risco de uma recessão econômica.

A análise considera uma combinação de inflação projetada para os próximos 12 meses, via coleta do relatório Focus do Banco Central. México, Hungria, Colômbia e Indonésia completam o top 5 dos países com juros mais altos da lista.

“Os programas de aperto quantitativo continuam lentos e o movimento global de políticas de aperto monetário continuou a ganhar força, com o aumento expressivo no número de Bancos Centrais (BCs) sinalizando preocupação com a inflação, mesmo com a queda do preço de commodities”, destaca trecho do relatório do ranking.

Segundo o especialista em relações institucionais e governamentais Eduardo Fayet, a desvalorização do real perante o dólar e o euro, além da dependência externa de produtos industrializados são os principais fatores que influenciam a permanência do Brasil como “campeão de juros no mundo”.

O mercado internacional está imerso em um cenário de descompasso entre oferta e procura, o que contribui para que a inflação se instale. Reinaldo Cafeo, economista da Paschoalotto, empresa de serviços financeiros, explica que a crise da pandemia da Covid-19, somada ao conflito entre Rússia e Ucrânia, fez com que os preços subissem.

Como consequência, os Bancos Centrais dos países elevaram a taxa de juros na tentativa de controlar a inflação.

“A preocupação é que essa dose de juros elevada leve os países à recessão econômica, ou seja, que a produção atual seja menor que a anterior na comparação, principalmente em 2023. Isso fez com que organismos internacionais, como Fundo Monetário Internacional, por exemplo, refizesse as contas, apontando menor crescimento mundial. Portanto, o cenário internacional das principais economias é um cenário de preocupação com eventual recessão econômica”, comenta Reinaldo Cafeo.

Vantagens e desvantagens

Eduardo Fayet aponta que as cadeias produtivas de produtos tecnológicos, alimentos (commodities) e combustíveis (petróleo e gás) – setores essenciais da economia – estão sendo afetadas pelo cenário de incertezas. Na visão dele, as dificuldades se agravam no caso dos países que possuem situações econômicas mais frágeis, como o Brasil.

Os juros altos interferem no comportamento do mercado. O economista Reinaldo Cafeo afirma que eles elevam o endividamento público e podem reduzir o crescimento econômico. “Por isso que a dose precisa ser adequada”, pontua.

Além disso, a elevação das taxas de juros gera menos emprego e reduz o investimento em desenvolvimento tecnológico e inovação. “O país precisa desse investimento para crescer. Dessa forma, programas adequados, com um sistema compensatório deveriam ser adotados pelo governo para que o setor privado possa investir nessas áreas”, critica Eduardo.

Apesar da alta de juros ser preocupante, ela pode trazer vantagens. Reinaldo destaca que quando os juros estão elevados, a tendência é de uma atração para a aplicação do capital estrangeiro no país. No entanto, ele ressalta que “como o ambiente eleitoral está se aproximando, há dúvidas sobre o modelo econômico a ser adotado aqui”, o que faz com que os investidores fiquem mais receosos.

Outra vantagem é a melhoria para o rentista, ou seja, aquele que guarda dinheiro. Mas a principal vantagem dos juros altos é o controle da inflação. “Ela prejudica sempre os mais pobres, ou seja, aqueles que não conseguem proteger o poder de compra”, acrescenta Reinaldo.

 

Via Metrópoles